terça-feira, 6 de setembro de 2011

Memória e história:uma valsa do esquecimento no salão das lembranças.


Memória do individuo
Definir o que vem a ser a memória é um ato complexo tendo em vista que ela se modifica dependendo da especialidade no qual será aplicada.Na concepção de Le Goff  ela é compreendida como sendo a propriedade de conservar certas informações pelas quais os homens atualizam suas impressões ou informações passadas ou que eles compreendem como passadas.Leroi- Gourhan não a compreende como uma propriedade ,mas como a base da inteligência na qual são inscritas a concatenação dos atos humanos.Baseando-se nisto Gourhan classifica a memória em três tipos:especifica;étnica e artificial.
“Podemos a este título falar de uma "memória específica" para definir a fixação dos comportamentos de espécies animais, de uma memória "étnica" que assegura a reprodução dos comportamentos nas sociedades humanas e, no mesmo sentido, de uma memória "artificial", eletrônica em sua forma mais [Pg. 426]recente, que assegura, sem recurso ao instinto ou à reflexão, a reprodução de atos mecânicos encadeados".(LE GOFF,1984)
            Aqui levaremos em conta dois tipos de memórias intrínsecas:a memória individual e a memória coletiva.Estas memórias possuem uma relação dialética uma vez que “cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva ,que   este ponto de vista muda conforme o lugar que ocupo,e que mesmo este lugar muda segundo as relações que mantenho com os outros meios”(HALBWACHS) e que a memória coletiva em certa medida “se efetivou precisamente excluindo do lugar de memória oficial a manifestação da memória dos excluídos”(SEIXAS).O lembrar também implica em produzir esquecimento.
            A memória individual possui certas peculiaridades que merecem serem abordadas e que nos ajudam a fazer os afastamentos e as aproximações entre elas.Cury em várias obras ressalta cinco grandes características desta modalidade de memória.A primeira é que o registro de um acontecimento ocorre através de um fenômeno denominado de RAM (Registro Automático da Memória) ,logo é um ato involuntário.Se o registro é automático então por que produzimos esquecimentos? A segunda característica explica que a emoção determina a qualidade do registro. Segundo Cury ”quanto maior o volume emocional envolvido em uma experiência,mais o registro é privilegiado e mais chance terá de ser resgatado”.A antepenúltima peculiaridade é que uma vez registrado ela não pode ser deletadas cabendo então apenas fazer uma releitura ou resignificação do acontecimento.A quarta especificidade é a  de que ela não é acessada por nossa vontade ,mas  pela energia emocional que experimentamos a cada vivencia cotidiana.E por fim a reminiscência ou lembrança nunca é pura ,ela é a reconstrução do passado que sofreu a influência do presente. A memória individual é em grande escala  o que Proust considera como memória involuntária que é “instável e descontínua,não vem para preencher os espaços em branco,supõe as lacunas e constrói-se com elas[...]Esse espaço vazio ,no entanto,é denso,pois percorrido por tempos múltiplos ,passiveis de ser atualizados pelas artimanhas da memória involuntária’(SEIXAS).
            Este conjunto de experiências armazenados são a base para a construção de uma ou a multiplicidade de identidades.É fundamentado na memória individual que construímos quem somos ,mas é também através de uma memória coletiva que criamos nossa etnicidade ou como Leroi- Gourhan afirma uma memória étnica que assegura uma performática de grupo com uma memória coletiva que construída voluntariamente com elementos representativos desta(s) identidade(s) capaz de gerar critérios de alteridade e uma construção discursiva sobre o eu ,o nós e os outros.É a propriedade de conservar certas informações que nos permite a autoafirmação e reconhecimento dos pares.
            A memória coletiva sofre um registro voluntário .Esta memória em abundancia é uniforme ,oficial e opera com representações da realidade que não” guarda” nada dela. Sendo a memória coletiva um instrumento e objeto de poder ,servindo tanto para libertar como para prender(LE GOFF,1924).Em grande medida a memória é um estandarte de poder, um controle do presente sobre o passado.
Referências Bibliográficas.
ALBUQUERQUE JÚNIOR,Durval Muniz.A arte de inventar o passado- Ensaios de teoria da História.Bauru:Edusc.2007
CURY,Augusto.Pais brilhantes;Professores fascinantes. Rio de Janeiro:Sextante.2008.
LE GOFF,Jacques.História e Memória.5 ed.São Paulo:Unicamp.2003
SEIXAS,Jacy Alves de.Percursos de memórias em terras de história: problemáticas atuais.Minas Gerais:Faculdade de Uberlândia

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